Nada. Não tenho nada para fazer. O sol queima. Deve estar furioso com qualquer coisa. Fica assim quando o aborrecem, mas não fui eu. É o que eu penso. O melhor é ficar em casa até que acalme e fique mais dócil. Aquilo passa-lhe. Logo, para o final da tarde, fica mais calmo, mais doce, mais terno e mais humano. É a melhor hora para conversarmos. Ele sabe disso, sobretudo nesta altura em que não faço nada. Sabe, porque tem ciúmes da lua, que nesta época mostra a sua beleza em toda a plenitude. Agiganta-se com a sensualidade de agosto e permanece assim durante muito tempo apagando tudo em seu redor. Nada brilha, a não ser ela. O seu silêncio, perturbador, atrai, e põe qualquer um a conversar com ela. Prenhe de satisfação e de alegria, anuncia vida nova, a vida que alimenta a alma dos poetas. Olhá-la é saborear a liberdade. Ela sabe. Por isso é que engravida sempre nesta altura e entrega o fruto do seu ventre apenas a quem a sabe respeitar. O sol sabe disso e fica invejoso por não lhe darem a atenção que merece. Sempre o mesmo. Nunca mais cresce. Não sabe que é o pai da luz da noite. Mas só posso dizer-lhe isso à noite, quando ele não está. Mas um dia, quando for noite para mim e dia para ele, vou-lhe contar esse segredo. Vai ficar feliz e eu também. Nada vai ser como dantes. Nada é apenas um segredo que se oferece em troca de nada, quando não houver mais nada para fazer.
Tenho que confessar, não consigo deixar de pensar nos jovens aprisionados na caverna tailandesa. Estou permanentemente à procura de notícias e evolução dos acontecimentos. Tantas pessoas preocupadas com os jovens. Uma perfeita manifestação de humanidade. O envolvimento e a necessidade de ajudar os nossos semelhantes, independentemente de tudo, constitui a única e gratificante medida da nossa condição humana. Estas atitudes, e exemplos, são uma garantia que me obriga a acreditar na minha espécie. Eu preciso de acreditar. Não invoco Deus por motivos óbvios. Invoco e imploro que os representantes da minha espécie façam o que tenham a fazer para honrar e dignificar a nossa condição. Salvem todos, porque ao salvá-los também ajudam a salvar cada um de nós.
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