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"Espanta-emigrantes"

Há muitos anos, ainda não havia a rede de autoestradas e vias rápidas que temos por aí, era muito perigoso circular neste país, sobretudo nos meses de verão. A invasão dos emigrantes com as suas máquinas constituía um real perigo. Recordo muitos acontecimentos e outros tantos sustos. Talvez o mais assustador tenha sido numa ida até Viseu. Numa curva, perto do Fail, uma "voiture" entrou em alta velocidade e despistou-se. Não levei com ela nas trombas porque consegui fugir para a outra faixa. Felizmente que não vinha ninguém atrás do outro. Um susto de morte. Era muito comum. Às vezes chegava a apanhar susto atrás de susto. Em conversa com um amigo, um viajante que galgava todo o território nacional, contei-lhe as minhas peripécias. Obviamente que em matéria de histórias rodoviárias provocadas pelos emigrantes deveria ter um currículo muito superior ao meu. Ouviu com muita atenção e depois, com um sorriso maroto, disse-me: - Eu não tenho problemas desses. Arranje uma buzina como deve ser. - Buzina? Eu tenho a minha e olhe que faço mesmo uso dela quando me aproximo de uma curva. - Sim, mas não presta para nada. Tem de ser uma buzina a sério. - A sério? Explique-me melhor. - Eu também sofria do mesmo, mas desde que montei a minha buzina nunca mais tive problemas. Não há emigrante que me assuste nesta altura do ano. - Não? - Não. Olhe lá onde tem o seu carro? - Está ali. - Posso ir ver a sua famosa buzina? - Claro que pode. Andamos uma vintena de metros e mostrou-me a bomba. - Credo! Onde arranjou isto? - Foi fácil. Arranjei-a de um camião TIR. E tem uma bateria só para ela. Quer ver? Depois foi fácil montar este sistema. Assim que chego junto de uma curva ponho-me a buzinar. Se vier alguém em sentido contrário param imediatamente. Sabe como é que a chamo? - Não! - "Espanta-emigrantes". Desde que a uso nunca mais tive problemas. O seu sorriso, permanentemente maroto, intensificou-se com esta última tirada. 

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