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Morte e beleza...


("Tale vivi como ti tal serás como mi" - 1576)

Qualquer dia serve para sentir a beleza do mundo que nos rodeia, até no dia da morte. Surgiu a morte. Tinha que aparecer, há muito que prometia suspirar por um dia destes, calmo, cálido e cheio de vida. A morte tem outro significado quando surge discretamente na onda da vida. Aconteceu.
Passei algumas vezes naquele local. Rodeei o templo várias vezes; sentia que deveria esconder coisas belas, apetitosas para a alma e analgésicas para a vida. 
Hoje, a porta estava aberta. Entrei e aproveitei para poder ver o seu interior e o odor dos tempos passados. Hoje, a porta estava aberta. Foi a morte que a abriu. Olhei para a morte à minha maneira, em silêncio e sem ver a face. Tenho as minhas regras, não ver as faces dos mortos, porque me fazem esquecer as expressões da vida. Prefiro ficar com essas recordações que mergulham na tranquilidade absoluta do tempo quando o pêndulo deixa de oscilar. 
Aproveitei o momento para me inteirar da beleza do templo. Muitas coisas me chamaram a atenção, a elegância, a cor, o silêncio, a arte, a pintura e as esculturas deliciosas do excelso período do renascimento coimbrão. Tanta beleza a casar com o silêncio da morte e as recordações da vida. Arte, morte e vida.
No frontispício de uma porta lateral da igreja chamou-me a atenção uma caveira orlada de palavras quinhentistas, "Tale vivi como ti tal serás como mi". Eu li e percebi. Perto, alguém, que talvez nunca a tenha lido como eu li, representava o que estava ali. 
Há várias maneiras de ler e também de aprender...

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