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"Manhã cinzenta"...

Uma manhã cinzenta em que a opinião se vestiu de inconveniente e enfeitou-se de arrogância e prepotência, talvez para fazer combinação com a sua visão imperativa do mundo e ausência de bom caráter. Incomoda-me certas observações ou comentários quando são lançados gratuitamente no ar através de palavras sobretudo os comentários sem autor. Incomoda-me e entristece-me, porque julgam que têm capacidades para opinar sobre o trabalho dos outros. Fico desfeito. Sinto o meu ser a esfarrapar-se em tiras de tristeza sem limite. Tudo porque a discordância atinge foros de obscenidade. Podia ter ficado calado. Podia ter comentado fria e cinicamente, mas não, libertei a minha alma que disse o que tinha a dizer. Concordo com ela, em absoluto. Libertar os sentimentos despertados por injustiças, que devem esconder insuficiências ou frustrações de longa data, ainda é o melhor. Não é que me alivie muito. Não é que vá mudar o que quer que seja. A natureza humana é violenta e ingrata. Mostra frequentemente a sua face oculta. Tem medo de enfrentar o brilho e a beleza do sol. Esconde-se e insulta sem pudor. Faz sofrer. Mesmo assim gosto de mostrar o que vai dentro de mim. É a única maneira que tenho de me entender. É o meu sopro de vida que se liberta no meio de gente que humilha e ofende sem entender o mal que faz aos outros nos seus juízos desproporcionados e injustos. 
Saí. Andei. Vagueei. Ainda entrei num velho templo, onde decorria uma cerimónia em que as entoações e as palavras se perdiam em sons sem calor e sem sentido. Uma ladainha qualquer. Não havia o silêncio que precisava. Saí e sentei-me num muro qualquer, ouvindo como pano de fundo os ruídos e a vida de uma cidade. Não me apetece olhar e ouvir as pessoas. Prefiro sentir e ouvir a revolta de uma alma que não consegue adaptar-se ao mundo. 
Cansa tanta má educação. 
Cansa tanta má formação. 
Cansa.  
Sinto cansaço....

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