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Ilusão...

A vida estremece de amargura a qualquer instante. Delicia-se com a explosão de sofrimento numa faísca de momento. Sabe fazer esperas e apunhala por querer. A vida delicia-se de prazer quando faz sofrer. Se me oferta uma breve sensação de doçura, numa bela manhã de verão, é porque pretende atormentar com mais prazer o meu coração. Depois, depois espera pela melhor ocasião. Consegue rir-se de mim. Consegue entristecer-me a ponto de não compreender a razão de ser da vida. Atormenta-me sempre que pode. Não gosto da vida. Nunca gostei. A vida é a imagem no espelho da mais estranha ilusão. Transforma-se de um momento para outro numa qualquer realidade que sabe deformar os mais belos sentimentos, sugar a essência da paixão, envenenar a fonte da alegria e paralisar a emoção da devoção. Não sou devoto da vida. Não sou devoto de ninguém. Não invejo nada. Só tenho pena de não poder gozar a verdadeira paz de um dia de ilusão. Se ao menos a ilusão existisse ainda poderia acreditar na finalidade da vida, mas não, a vida é que não passa da mais estranha ilusão, rouba tudo, até um silencioso momento de inspiração. Só tenho que esperar. Esperar que a noite deixe de ser quente e fria, apenas silenciosa e tranquila, onde possa semear as minhas sementes da ilusão, que nunca irão crescer porque não há terra, nem céu, nem tempo e nem espaço para que o meu jardim possa florescer de emoção e de paixão. Não há terra, não há céu, não há espaço e nem há tempo para conhecer o sabor da mais bela ilusão, a ilusão de uma vida nunca sentida e desde sempre perdida.

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