Avançar para o conteúdo principal

A poluição

Ao ver um filme/reportagem sobre o ambiente, poluição, aquecimento global, destruição das florestas e cidades "modernas" construídas em redor da exploração do betume e do petróleo, senti um incómodo difícil de entender. Nas entrevistas, pessoas que deveriam ter o mínimo de sentido e de dignidade revelaram mais uma faceta suja da natureza humana. Uma estranha felicidade gira sempre em redor do dinheiro fácil. Bebem, comemoram e jogam com as expectativas de ganhar dinheiro em abundância. Contam, com euforia patética, os valores que ganharam em tão pouco tempo. Um deles, pareceu-me ser um engenheiro, meio alcoolizado, pediu desculpa mas tinha que se assoar. Retira uma nota do bolso - desconheço o valor da mesma -, e enfiou o seu ranho parolo no meio dela. Depois, ostensivamente, deitou-a fora sob olhar complacente e divertido do seu companheiro. Um pequeno episódio a somar a milhares de outros em que os "valores humanos" vêm ao de cima, negro, espesso e altamente energético, para, ao serem queimados, contaminar ou matar qualquer sonho de uma hipotética e bela essência subjacente aos seres humanos. Seres humanos, a maior desgraça que tombou neste planeta. Um exemplo concreto do péssimo resultado de quem um dia se lembrou de o criar. Fraca ideia por parte de quem se arvora em ter as melhores do universo!
Ao olhar, com nojo e total repulsa pelo ato de pseudo-higiene de alguém que ganha balúrdios com a exploração de petróleo, recordei-me de muitas histórias que ouvi em pequeno sobre a exploração do volfrâmio em Portugal. Na altura, alimentava as atividades da guerra de ambos os lados, alemães e os seus inimigos, ou, dito de outra forma, aliados e alemães. A riqueza fazia-se tão rapidamente que muitos acendiam os charutos nos cafés com notas de vinte, cinquenta, cem, quinhentos e, até, mil escudos. Ficava de boca aberta perante esta aberração que traduz a suprema aspiração do ser humano, ser rico e poderoso à custa de valores e de princípios que deveriam regular a atividade humana. Ouvi, agora mesmo, a palavra ganância. Ganância, arrogância, malícia, falta de respeito e desejo de ter e de ser o maior de todos à custa da destruição, da morte e da falta de respeito pelos que veem a vida de forma diferente, com ternura, amor e dignidade. Também ouvi, em pequeno, que as notas de maior valor eram usadas como papel higiénico. Na miséria constante em que viviam, muitos não se importavam em desbravar a merda dos seus semelhantes para poderem obter alguma riqueza. Arrogância, humilhação e necessidade andam de mãos dadas. Sempre foi assim. Quanto ao resultado final, não é difícil de prever o que irá acontecer.
O dileto filho da criação de um deus embriagado na sua omnipotência e omnisciência só podia ter como resultado um produto deteriorado que só sabe destruir a natureza e a sua própria essência. Mais valia ter estado quedo, porque mudo é a sua eterna constante.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Fugir

Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite.  Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.

Nossa Senhora da Tosse

Acabei de almoçar e pensei dar a tradicional volta. Hoje tem de ser mais pequena para compensar a do dia anterior. Destino? Não tracei. O habitual. O melhor destino é quando se anda à deriva falando ao mesmo tempo. Quanto mais interessante for a conversa menos hipótese se tem de desenhar qualquer mapa. Andei por locais mais do que conhecidos e deixei-me embalar por cortadas inesperadas. Para quê? Para esbarrar em coisas desconhecidas. O que é que eu faço com coisas novas e inesperadas? Embebedo-me. Inspiro o ar, a informação, a descoberta, a emoção, tudo o que conseguir ver, ouvir, sentir e especular. Depois fico com interessantes pontos de partida para pensar, falar e criar. Uma espécie de arqueologia ambulatória em que o destino é senhor de tudo, até do meu pensar. Andámos e falámos. Passámos por locais mais do que conhecidos; velhas casas, cada vez mais decrépitas, rochas adormecidas desde o tempo de Adão e Eva, rios enxutos devido à seca e almas vivas espelhadas nos camp

Guerra da Flandres...

Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão. Exmas autoridades. Caros concidadãos e concidadãs. Hoje, Dia de Portugal, vou usar da palavra na dupla qualidade de cidadão e de Presidente da Assembleia Municipal. Palavra. A palavra está associada ao nascer do homem, a palavra vive com o homem, mas a palavra não morre com o homem. A palavra, na sua expressão oral, escrita ou no silêncio do pensamento, representa aquilo que interpreto como sendo a verdadeira essência da alma. A alma existe graças à palavra. A palavra é o seu corpo, é a forma que encontro para lhe dar vida. Hoje, vou utilizá-la para ressuscitar no nosso ideário corpos violentados pela guerra, buscando-os a um passado um pouco longínquo, trazendo-os à nossa presença para que possam conviver connosco, partilhando ideias, valores, dores, sofrimentos e, também, alegrias nunca vividas. Quando somos pequenos vamos lentamente percebendo o sentido das palavras, umas vezes é fácil, mas outr