"Está mal a um cão"

No recanto do sossego, aguardo a invasão da tranquilidade desejada. Olho para o longo dia e concluo que mereço. Tanta coisa ouvida, dita e construída. Ensinei, aprendi e refleti. O mundo, não o gigante, mas o meu, pequeno, localizado e simples, modificou-se. Não é uma questão de perceção, é a realidade testemunhada por quem conviveu comigo ao longo do dia. Imagino que, a esta hora, alguns conceitos começam a tomar forma e a espalhar-se sob a forma de conversas informais suscetíveis de causar espanto, admiração e provocar reações, as quais, por sua vez, irão alimentar a especulação, a inovação, o conhecimento e o crescimento dos mais jovens e a satisfação dos mais velhos. Olho para o dia que passou e consigo encontrar satisfação. Não é comum, mas hoje, cansado, sinto que é meu dever testemunhar o meu apreço por muitas pessoas que constroem, anonimamente, o mundo. Uma sensação agradável. Tanta coisa dita e construída. Quanto tempo foi necessário para conseguir este desiderato? Olhando bem, talvez uma vida. Espremida em pouco tempo fez-me sentir que sou um ser válido. É agradável beber de um só trago tão saborosa bebida, verdadeira "água da vida". Partilhar conhecimentos, capazes de mudar os múltiplos pequenos mundos que giram em redor de gente anónima e esperançada, é a melhor recompensa que posso desfrutar ao fim do dia.
Perguntou-me:
- Não estás cansado?
- Não.
- Sabes o que te digo? Está mal a um cão!
- Credo! Onde foste buscar essa expressão?
- Desde pequena que a ouço!
- Ah! Tens razão. Agora recordo. Mais um regionalismo. Deve ser da tua avó. Era um poço de expressões que até o Aquilino ficaria admirado.
- Pois, sendo assim, o que é que posso dizer?
- Hoje, pelo menos, não posso afirmar "está mal a um cão"!
Amanhã, logo se verá!

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