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Penar


Não sei se o mundo é estranho. Só sei que as pessoas são fragmentos de um vidro destruído por falta de ideais. O mundo não se vê ao espelho e nunca irá perceber se faz ou não sentido. Olho para os fragmentos da vida e não consigo ver o outro lado da realidade, o mundo belo e escondido atrás de um espelho partido. Nem imaginar consigo, apenas sinto. Ainda sinto. Sentir é a mais estranha forma de penar. Um penar que me obriga a pensar sem achar nada a não ser uma profunda indiferença perante o olhar de um mundo criado pelo verbo amar. Estranho mundo. Não sei se é estranho. Eu é que me sinto cada vez mais estranho e cansado da ilusão de um mundo sem sentido. Consola-me uma curta e inesperada conversa, a oferta de sentimentos e paixões moldadas ou pintadas por velhos corações e o desejo de parar o mundo no tempo em que as ondas do mar adormecem, o ar se esconde e a noite desperta com luminosidade para quem não compreende a vida.
O que fazer? Esperar. Sempre é uma forma de orar e espanta por momentos o meu penar.

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