Gente sem vergonha!

Vivo num mundo que não é difícil de compreender. O que me preocupa é a forma como somos tratados, manipulados e gozados. Mas que fazer perante esta forma de enganar o próximo? Nada, ou, então, muito pouco. Não consigo conciliar os valores que a humanidade exige, e merece, com a conduta dos que abusam da credulidade da maioria da população. Revolta-me a forma de ser de muitos que se vendem à custa da propagação de ideias que não se coadunam com os princípios mais básicos da dignidade humana. A televisão é um bom exemplo. Apresentadores, artistas e pessoas, que dão a cara a troco de cinco tostões, são capazes de afirmar que certos produtos e substâncias são o melhor que há para tratar da saúde. Perfeitos negociantes que vendem as suas imagens para publicitar coisas que não têm qualquer razão de ser. Pagam-lhes, e os gajos dizem que aquelas "coisas" são boas para a saúde. Os incautos pobretanas caem que nem uns patos bravos nestas teias de negócio que revoltam as minhas pobres vísceras. Para agravar o problema, são sempre os mesmos, e as mesmas - esta mania "guterriana" de falar no masculino e no feminino ao mesmo tempo dá-me cabo dos nervos -, que aparecem com as suas imagens cristalinas e solenes a anunciar as vantagens do consumo de tais produtos. São os tais que conseguem "espremer" as lágrimas dos portugueses, e portuguesas, em muitas situações, quando apelam à filantropia e dedicação dos concidadãos, e concidadãs, ao serem confrontados(as) com situações que exigem solidariedade. Perfeitos(as) hipócritas. Cansam-me e irritam-me as suas participações em campanhas publicitárias angariadoras de euros (mais IVA!) para poderem participar em fantochadas que lhes enchem os bolsos. Uma elite de ordinários que se vende aos euros de quem sabe explorar as bolsas dos mais pobres e incautos. Se me fosse permitido utilizaria a mais pura, a mais sincera e a mais digna da linguagem vicentina, e, mesmo assim, ficaria longe do que gostaria dizer.
Andam a enfiar com cálcio nas entranhas dos portugueses. É demais! Ainda por cima, essa gaita do cálcio parece que vale ouro. Se tiverem necessidade de cálcio o melhor é irem ao médico assistente. A prescrição é fácil e muito mais barata. Feitas as contas fica um sexto do valor que é anunciado! Até é comparticipado!  Pobres portugueses que caem na publicidade de brasileiros, de atores e apresentadores de televisões que se prestam a tal serviço. Uma indignidade que tenho de denunciar. Quase que me apetecia dizer, embora a comunicação social não aprecie palavrões, ainda por cima vindas de pessoas que ocupam lugares "respeitáveis", PQP. Desculpem. Trata-se de um erro, o que eu queria dizer era SPQR, "O Senado e o Povo Romano" determinam que se engane o povo sempre que for possível. Abaixo os gajos, e gajas, que provocam refluxo gastroesofágico em muitos compatriotas. Não passam de gentalha sem vergonha.
Razão de ser desta crónica? Simples. O meu velho amigo de infância, o Marta, que está passado de todo, aproximou-se como é habitual aos domingos no seu passo lento e pendurado no velho cigarro. Disparou a frase esperada: - Oh Cardoso! Foste à missa? - Não me chateies! Tu foste? - Fui. - Fizeste muito bem. Sorri. Depois, vem a pergunta sacramental do domingo. - Queres ires almoçar a minha casa? - O que é hoje? Perguntei. - Canja. - Canja?! - Sim, mas de galinha caseira. - O quê!!! Não é leitão, sarrabulho ou cozido à portuguesa? - Não. A minha irmã está doente.- Doente? O que é que ela tem? - Dores nos ossos! - Ora bolas. Não me digas. Então, ela não estava a tomar Calcitrin? Doido, ou a caminho disso, riu-se e respondeu com uma farfalheira profunda devida ao tabaco: -  Não, anda a tomar Reumon Gel. - Faz muito bem!

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