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Horizonte


Olhei para o horizonte.
Conheço-o bem.
Não foge.
Horizonte triste no meio da tarde silenciosa.
Ouvi soluços estranhos de uma ave.
Chorava? Sonhava? Não sei.
Piava ou gritava? Não sei.
Vi-a no alto do velho sobreiro.
Viu-me.
Calou-se e voou mostrando uma elegante envergadura.
O horizonte só podia ser para um de nós.
A imagem encheu-se cheia de cor.
No fundo do vale começou a emergir um doce nevoeiro vestido de dor.
Guardei o horizonte solitário e imaginei a cor do silêncio.
Recordei o triste piar da bela ave e apaguei o amor que o nevoeiro quis esquecer.
Um olhar para o mesmo horizonte que desperta sempre o desejo de sonhar.
Horizonte quedo e silencioso, seja qual for o dia, haja ou não alegria,
dor ou fantasia.
Um horizonte não muito diferente dos velhos tempos quando não via.

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