Causa-me imenso transtorno ver o que se passa em certos setores da nossa sociedade. O caso da banca é paradigmático. Como é possível ter caído numa sucessão de crises em que a falta de respeito e de confiança passaram a ser a sua imagem de marca?
A banca é useira e vezeira em convencer muitos depositantes a escolher determinados produtos que "são" muito mais rentáveis do que os tradicionais e "seguros" (?) depósitos.
O senhor, de idade, foi ao banco buscar aquilo que julgava ser seu. Não trouxe nada, porque tinha investido em obrigações e outras "coisas" que lhe foram sugeridas pelos funcionários do banco. Disseram-lhe que rendia mais e que de seis em seis meses receberia juros sem problemas; o dinheiro estava seguro. Sorri com tristeza, porque induzir um idoso é muito fácil. Basta colocar gente bem-falante, e devidamente treinada, sempre de gravata ou, no caso de ser uma senhora, saia e blusa bem combinadas, aspeto bem cuidado, e que, por cima, trabalham num banco, instituição que foi até agora sinónimo de respeitabilidade e honorabilidade. O sorriso educado, e bem medido, sempre presente numa atmosfera onde se respira riqueza, ou "aparente riqueza", faz o resto.
O senhor considera-se ter sido enganado porque nem sabia dizer em que é que aplicou as poupanças da sua vida. Nem conseguia dizer a palavra "obrigações", teve de ser a jornalista a ajudá-lo e a esclarecer a audiência televisiva. Uma vida desfeita. O seu olhar triste e miserável fez-me recordar tantos outros que devem estar na mesma situação. Tivessem explicado como deve ser o que estavam a fazer e o mais certo era não ter caído neste estranho jogo que aflige a sociedade, enganar sempre que possível para ganhar. Eu sei, é humano querer obter mais-valias, mas usar e abusar da credulidade das pessoas parece ser o lema de muitos que neste país ganham a vida desta maneira. A minha avó já em dizia, em pequeno, que "andava meio mundo a enganar o outro". Eu fui atrevido quando lhe perguntei a qual deles pertencia. Olhou-me de cima para baixo durante breves segundos e disparou num sussurro típico e assustador: - O que é que tu achas? Fiquei a olhar sem saber o que dizer e de repente avancei: - Nem a um nem a outro! - Explica-te melhor. - Não fazes parte do tal meio mundo que anda a enganar o outro porque és uma boa pessoa e nunca enganaste ninguém. Também não fazes parte do mundo que é para ser enganado porque não tens nada, és pobre, sabes ler, pensar e és desconfiada. Basta ver como me olhaste quando te perguntei a que meio mundo pertencias.
- Hum! Gostei da resposta. Pôs-me o braço por cima dos ombros e deixou de usar o seu assustador sussurro sibilino quando se zangava. - Ufa. Pensei. Já me livrei de boa. - Não é por nada, mas ficas avisado de que tens de estar sempre de pé atrás quando te oferecerem coisas a mais. Sabes aquele ditado? "Quando a esmola é muita, o pobre desconfia"? Pedi para que repetisse. Nunca tinha ouvido. Foi a primeira vez. Ainda estive tentado a perguntar-lhe se aquele ditado estaria certo. Fixei-o, mas nunca acreditei muito nele.
Olho em redor, basta ver a televisão com os seus anúncios miraculosos, telefonemas que dão prémios ou atender o telefone e ouvir as propostas por parte de operadoras muito preocupadas com a nossa bolsa, para falar apenas de alguns casos, e concluir que os que caem são preferencialmente os mais pobres. E como o país tem cada vez mais pobres há quem enriqueça à sua custa, o tal meio mundo que anda a enganar o próximo. É preciso criar um terceiro mundo, o dos "desconfiados", que saiba detetar, explicar e ensinar como não cair nas mãos de tanta trafulhice.
A banca é useira e vezeira em convencer muitos depositantes a escolher determinados produtos que "são" muito mais rentáveis do que os tradicionais e "seguros" (?) depósitos.
O senhor, de idade, foi ao banco buscar aquilo que julgava ser seu. Não trouxe nada, porque tinha investido em obrigações e outras "coisas" que lhe foram sugeridas pelos funcionários do banco. Disseram-lhe que rendia mais e que de seis em seis meses receberia juros sem problemas; o dinheiro estava seguro. Sorri com tristeza, porque induzir um idoso é muito fácil. Basta colocar gente bem-falante, e devidamente treinada, sempre de gravata ou, no caso de ser uma senhora, saia e blusa bem combinadas, aspeto bem cuidado, e que, por cima, trabalham num banco, instituição que foi até agora sinónimo de respeitabilidade e honorabilidade. O sorriso educado, e bem medido, sempre presente numa atmosfera onde se respira riqueza, ou "aparente riqueza", faz o resto.
O senhor considera-se ter sido enganado porque nem sabia dizer em que é que aplicou as poupanças da sua vida. Nem conseguia dizer a palavra "obrigações", teve de ser a jornalista a ajudá-lo e a esclarecer a audiência televisiva. Uma vida desfeita. O seu olhar triste e miserável fez-me recordar tantos outros que devem estar na mesma situação. Tivessem explicado como deve ser o que estavam a fazer e o mais certo era não ter caído neste estranho jogo que aflige a sociedade, enganar sempre que possível para ganhar. Eu sei, é humano querer obter mais-valias, mas usar e abusar da credulidade das pessoas parece ser o lema de muitos que neste país ganham a vida desta maneira. A minha avó já em dizia, em pequeno, que "andava meio mundo a enganar o outro". Eu fui atrevido quando lhe perguntei a qual deles pertencia. Olhou-me de cima para baixo durante breves segundos e disparou num sussurro típico e assustador: - O que é que tu achas? Fiquei a olhar sem saber o que dizer e de repente avancei: - Nem a um nem a outro! - Explica-te melhor. - Não fazes parte do tal meio mundo que anda a enganar o outro porque és uma boa pessoa e nunca enganaste ninguém. Também não fazes parte do mundo que é para ser enganado porque não tens nada, és pobre, sabes ler, pensar e és desconfiada. Basta ver como me olhaste quando te perguntei a que meio mundo pertencias.
- Hum! Gostei da resposta. Pôs-me o braço por cima dos ombros e deixou de usar o seu assustador sussurro sibilino quando se zangava. - Ufa. Pensei. Já me livrei de boa. - Não é por nada, mas ficas avisado de que tens de estar sempre de pé atrás quando te oferecerem coisas a mais. Sabes aquele ditado? "Quando a esmola é muita, o pobre desconfia"? Pedi para que repetisse. Nunca tinha ouvido. Foi a primeira vez. Ainda estive tentado a perguntar-lhe se aquele ditado estaria certo. Fixei-o, mas nunca acreditei muito nele.
Olho em redor, basta ver a televisão com os seus anúncios miraculosos, telefonemas que dão prémios ou atender o telefone e ouvir as propostas por parte de operadoras muito preocupadas com a nossa bolsa, para falar apenas de alguns casos, e concluir que os que caem são preferencialmente os mais pobres. E como o país tem cada vez mais pobres há quem enriqueça à sua custa, o tal meio mundo que anda a enganar o próximo. É preciso criar um terceiro mundo, o dos "desconfiados", que saiba detetar, explicar e ensinar como não cair nas mãos de tanta trafulhice.
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