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"Medo"...

O amanhecer nem sempre é sinónimo de um novo dia, por vezes anuncia-se sob a face fria da dor, assusta, inquieta e até mata. O sol eleva-se no horizonte e escalda o corpo. Corpo quente e alma fria, um contraste duro, doentio, que provoca ainda mais ansiedade. Depois, os olhos, remelados pela tristeza do amanhecer, procuram apenas o que é maléfico, querem fugir da dor mas não conseguem, buscam belas notícias e não conseguem, atormentando-se com agruras anunciadas. Um contraste feroz entre o sol solitário e as almas geladas que começam a cercar-me, a tocar-me e a quererem quebrar o frio da existência. Um caso lembra outro e esse ainda outro, numa cadeia ininterrupta de acontecimentos como se fosse uma escadaria em caracol a querer empurrar-me até às profundezas do inferno, onde um calor frio tenta imitar e convencer-me de que ali está o sol da vida. Uma forma enganosa para me atrair. Velha, mas não estranha. Sento-me, cansado, e deixo-me adormecer profundamente, convicto de poder fugir para um outro mundo. Fugi. Durante esse tempo não vi, não ouvi e nem senti nada. Apenas um cansaço, um cansaço agradável que apagou o triste cansaço de um estranho amanhecer. Será que o nascer da noite irá compensar a morte do amanhecer?

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Fugir

Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite.  Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.

Nossa Senhora da Tosse

Acabei de almoçar e pensei dar a tradicional volta. Hoje tem de ser mais pequena para compensar a do dia anterior. Destino? Não tracei. O habitual. O melhor destino é quando se anda à deriva falando ao mesmo tempo. Quanto mais interessante for a conversa menos hipótese se tem de desenhar qualquer mapa. Andei por locais mais do que conhecidos e deixei-me embalar por cortadas inesperadas. Para quê? Para esbarrar em coisas desconhecidas. O que é que eu faço com coisas novas e inesperadas? Embebedo-me. Inspiro o ar, a informação, a descoberta, a emoção, tudo o que conseguir ver, ouvir, sentir e especular. Depois fico com interessantes pontos de partida para pensar, falar e criar. Uma espécie de arqueologia ambulatória em que o destino é senhor de tudo, até do meu pensar. Andámos e falámos. Passámos por locais mais do que conhecidos; velhas casas, cada vez mais decrépitas, rochas adormecidas desde o tempo de Adão e Eva, rios enxutos devido à seca e almas vivas espelhadas nos camp...

"Salvem todos"...

Tenho que confessar, não consigo deixar de pensar nos jovens aprisionados na caverna tailandesa. Estou permanentemente à procura de notícias e evolução dos acontecimentos. Tantas pessoas preocupadas com os jovens. Uma perfeita manifestação de humanidade. O envolvimento e a necessidade de ajudar os nossos semelhantes, independentemente de tudo, constitui a única e gratificante medida da nossa condição humana. Estas atitudes, e exemplos, são uma garantia que me obriga a acreditar na minha espécie. Eu preciso de acreditar. Não invoco Deus por motivos óbvios. Invoco e imploro que os representantes da minha espécie façam o que tenham a fazer para honrar e dignificar a nossa condição. Salvem todos, porque ao salvá-los também ajudam a salvar cada um de nós.