Avançar para o conteúdo principal

"Outono e outonos"...


É  interessante a forma como o homem divide o tempo da sua existência. Decalca-a da passagem do tempo da natureza. Uma das fases que o entristece é o seu outono, altura em que as forças começam a enfraquecer apesar do brilhantismo multicolor da vida que, num ato genuíno da natureza, se manifesta através de vermelhos, castanhos, amarelos e dourados capazes de fazer inveja ao ouro. Tudo enfraquece, sobretudo as capacidades de defesa. Tantos anos de vida e tantos erros acumulados. Não há meios para enfrentar tantas necessidades de reparação. O sistema nobre do nosso corpo, o sempre vigilante sistema imunológico, não consegue, a partir de certa altura, dar resposta a tudo. Logo, as doenças surgem, sobretudo as degenerativas, tão típicas das idades mais avançadas. Proteger o sistema que nos defende poderia ser a solução para grande parte dos males, mas, felizmente - não é erro, não! -, ele tem de passar pelo outono para terminar no inverno da vida, mas o mais tarde possível, já que temos de perecer. É a lei da sobrevivência, não do indivíduo, mas de qualquer espécie. O que interessa fazer? Empurrar a doença e a morte para o mais longe possível, sem nunca as evitar. As nossas defesas vão, paulatinamente, com o tempo, tornando-se mais débeis e os erros são cada vez mais frequentes. Daqui à doença é um pequeno passo. Ter cuidado com os estilos de vida, alimentação e exercício, por exemplo, é um velho cliché que já foi repetido até à exaustão. Mas há outros fatores, tais como certos acontecimentos da vida, que provocam tristeza e depressão, e que têm como consequência a diminuição da capacidade defensiva do nosso sistema imunológico. A personalidade de cada um, aliada à educação e estilo de vida, contribuem de forma única para manter o nosso sistema de vigilância em pleno funcionamento contra as doenças infecciosas e degenerativas, caso do cancro. Mas é difícil, mesmo muito complicado, porque hoje em dia são inúmeras as situações que provocam angústia, indecisão, tristeza e depressão, comprometendo a resistência de qualquer um. Uma das condições para nos protegermos de grande parte das doenças do outono da vida seria evitar situações graves de stresse, o que não é possível, infelizmente, na sociedade em que vivemos. De qualquer modo, aqui vai um conselho, conquistar, descobrir, inventar e dar felicidade ao longo da vida será a forma mais saudável para que o sistema de vigilância imunológica - o principal guardião de saúde de qualquer um -, possa ajudar-nos a desfrutar com prazer as belezas de muitos outonos...

Comentários

Mensagens populares deste blogue

"Salvem todos"...

Tenho que confessar, não consigo deixar de pensar nos jovens aprisionados na caverna tailandesa. Estou permanentemente à procura de notícias e evolução dos acontecimentos. Tantas pessoas preocupadas com os jovens. Uma perfeita manifestação de humanidade. O envolvimento e a necessidade de ajudar os nossos semelhantes, independentemente de tudo, constitui a única e gratificante medida da nossa condição humana. Estas atitudes, e exemplos, são uma garantia que me obriga a acreditar na minha espécie. Eu preciso de acreditar. Não invoco Deus por motivos óbvios. Invoco e imploro que os representantes da minha espécie façam o que tenham a fazer para honrar e dignificar a nossa condição. Salvem todos, porque ao salvá-los também ajudam a salvar cada um de nós.

Fugir

Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite.  Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.

Nossa Senhora da Tosse

Acabei de almoçar e pensei dar a tradicional volta. Hoje tem de ser mais pequena para compensar a do dia anterior. Destino? Não tracei. O habitual. O melhor destino é quando se anda à deriva falando ao mesmo tempo. Quanto mais interessante for a conversa menos hipótese se tem de desenhar qualquer mapa. Andei por locais mais do que conhecidos e deixei-me embalar por cortadas inesperadas. Para quê? Para esbarrar em coisas desconhecidas. O que é que eu faço com coisas novas e inesperadas? Embebedo-me. Inspiro o ar, a informação, a descoberta, a emoção, tudo o que conseguir ver, ouvir, sentir e especular. Depois fico com interessantes pontos de partida para pensar, falar e criar. Uma espécie de arqueologia ambulatória em que o destino é senhor de tudo, até do meu pensar. Andámos e falámos. Passámos por locais mais do que conhecidos; velhas casas, cada vez mais decrépitas, rochas adormecidas desde o tempo de Adão e Eva, rios enxutos devido à seca e almas vivas espelhadas nos camp...