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"Ardor"...

Dia particularmente quente, tão quente a ponto de inibir a inspiração. Convida-me com uma doce sonolência e desafia-me para mergulhar na tranquilidade de uma sombra ou nas águas frescas de um rio. Dia particularmente quente, tão quente a ponto de querer que eu esqueça que o mundo existe. Afugenta-me das alegrias e empurra-me para o sossego de qualquer espaço sagrado. Dia particularmente quente, tão quente a ponto de esquecer o que não quero lembrar-me. Silencia-me tudo, as ideias, as esperanças, o passado e o futuro, e adoça-me com ambrósia dos deuses. Dia particularmente quente, tão quente a ponto de desejar procurar o meu local, onde a frescura tranquiliza a minha existência. Preciso de beber o seu ar, respirar a sua penumbra e adormecer em sonhos prometidos. O tempo não passa. Passa, passa depressa, quer o dia continue ou não particularmente quente, eu só quero que passes ó tempo, passa depressa, passa para poder descansar sem ti, num local onde não precisas de mim. Passa depressa tempo, passa depressa, dá-me um pouco de ti, que eu depois regresso e faço tudo o que me pedes em qualquer dia, mesmo que seja particularmente quente.

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Fugir

Tenho que fugir à rotina. A que me persegue corrói-me a alma e destrói a vontade de saborear o sol e de me apaixonar pela noite.  Tenho que fugir à vontade de partilhar o que sinto. Não serve para grande coisa, a não ser para avivar as feridas. Tenho que fugir à vontade de contar o que desejava. Não quero incomodar ninguém. Tenho que fugir de mim próprio. Dói ter que viver com o que escrevo.

Nossa Senhora da Tosse

Acabei de almoçar e pensei dar a tradicional volta. Hoje tem de ser mais pequena para compensar a do dia anterior. Destino? Não tracei. O habitual. O melhor destino é quando se anda à deriva falando ao mesmo tempo. Quanto mais interessante for a conversa menos hipótese se tem de desenhar qualquer mapa. Andei por locais mais do que conhecidos e deixei-me embalar por cortadas inesperadas. Para quê? Para esbarrar em coisas desconhecidas. O que é que eu faço com coisas novas e inesperadas? Embebedo-me. Inspiro o ar, a informação, a descoberta, a emoção, tudo o que conseguir ver, ouvir, sentir e especular. Depois fico com interessantes pontos de partida para pensar, falar e criar. Uma espécie de arqueologia ambulatória em que o destino é senhor de tudo, até do meu pensar. Andámos e falámos. Passámos por locais mais do que conhecidos; velhas casas, cada vez mais decrépitas, rochas adormecidas desde o tempo de Adão e Eva, rios enxutos devido à seca e almas vivas espelhadas nos camp...

"Salvem todos"...

Tenho que confessar, não consigo deixar de pensar nos jovens aprisionados na caverna tailandesa. Estou permanentemente à procura de notícias e evolução dos acontecimentos. Tantas pessoas preocupadas com os jovens. Uma perfeita manifestação de humanidade. O envolvimento e a necessidade de ajudar os nossos semelhantes, independentemente de tudo, constitui a única e gratificante medida da nossa condição humana. Estas atitudes, e exemplos, são uma garantia que me obriga a acreditar na minha espécie. Eu preciso de acreditar. Não invoco Deus por motivos óbvios. Invoco e imploro que os representantes da minha espécie façam o que tenham a fazer para honrar e dignificar a nossa condição. Salvem todos, porque ao salvá-los também ajudam a salvar cada um de nós.