Dia particularmente quente, tão quente a ponto de inibir a inspiração. Convida-me com uma doce sonolência e desafia-me para mergulhar na tranquilidade de uma sombra ou nas águas frescas de um rio. Dia particularmente quente, tão quente a ponto de querer que eu esqueça que o mundo existe. Afugenta-me das alegrias e empurra-me para o sossego de qualquer espaço sagrado. Dia particularmente quente, tão quente a ponto de esquecer o que não quero lembrar-me. Silencia-me tudo, as ideias, as esperanças, o passado e o futuro, e adoça-me com ambrósia dos deuses. Dia particularmente quente, tão quente a ponto de desejar procurar o meu local, onde a frescura tranquiliza a minha existência. Preciso de beber o seu ar, respirar a sua penumbra e adormecer em sonhos prometidos. O tempo não passa. Passa, passa depressa, quer o dia continue ou não particularmente quente, eu só quero que passes ó tempo, passa depressa, passa para poder descansar sem ti, num local onde não precisas de mim. Passa depressa tempo, passa depressa, dá-me um pouco de ti, que eu depois regresso e faço tudo o que me pedes em qualquer dia, mesmo que seja particularmente quente.
Tenho que confessar, não consigo deixar de pensar nos jovens aprisionados na caverna tailandesa. Estou permanentemente à procura de notícias e evolução dos acontecimentos. Tantas pessoas preocupadas com os jovens. Uma perfeita manifestação de humanidade. O envolvimento e a necessidade de ajudar os nossos semelhantes, independentemente de tudo, constitui a única e gratificante medida da nossa condição humana. Estas atitudes, e exemplos, são uma garantia que me obriga a acreditar na minha espécie. Eu preciso de acreditar. Não invoco Deus por motivos óbvios. Invoco e imploro que os representantes da minha espécie façam o que tenham a fazer para honrar e dignificar a nossa condição. Salvem todos, porque ao salvá-los também ajudam a salvar cada um de nós.
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